Edição especial: O Jabuti no meio da sala
ERRATA: Precisamos fazer uma correção na news de hoje. O lançamento de O Cordeiro e os Pecados Dividindo o Pão, de Milena Martins Moura, ocorrerá na unidade de Ipanema da Livraria da Travessa.
Olá! Tudo bem por aí?
Ontem, dia 09 de novembro, foi um dia de grande agitação para o mercado editorial: o Prêmio Jabuti divulgou os semifinalistas da edição deste ano. A Aboio dá os parabéns aos selecionados; é sempre gratificante ver profissionais do livro — novatos e veteranos, da ficção e da não-ficção, do texto e do design — sendo reconhecidos.
No entanto, a felicidade logo deu lugar à indignação quando foi constatado que um dos indicados na categoria Ilustração foi feito com o uso de uma ferramenta de inteligência artificial. No X, antigo Twitter, a escritora Giu Domingues divulgou uma carta aberta à Câmara Brasileira do Livro, organizadora do Jabuti, cobrando “um posicionamento assertivo da CBL contra o uso de ferramentas que exploram nossa classe”.
Longe de nós criar um pânico moral contra os avanços tecnológicos — fosse o caso, esta newsletter seria um telegrama, não um e-mail. No entanto, é preciso lembrar que a inteligência artificial não inventa nada por conta própria: as ferramentas se alimentam de trabalhos já existentes, muitas vezes sem a autorização de seus autores, para “criar” suas peças.
A bem da verdade, nenhum artista existe num vácuo. Profissionais do mercado criativo, sejam escritores, ilustradores ou qualquer outra categoria, usam as obras uns dos outros como referência para desenvolver seu próprio trabalho. A diferença aqui é a possibilidade de dar os devidos créditos e, se for o caso, remunerar quem serviu de inspiração. Ao alimentar máquinas com imagens quaisquer e pedir que ela produza algo vazio de intencionalidade e autenticidade, caímos num terreno pantanoso muito próximo ao plágio.
Conhecemos bem os custos de publicar um livro. Não é nem um pouco barato. Porém, existem diversas formas de diminuir o preço dessa produção sem precisar rifar ilustradores e designers humanos, desvalorizando os trabalhadores de nosso mercado e abrindo um precedente perigoso para que todos os processos editoriais sejam automatizados. Mais do que uma defesa de uma “verdadeira arte”, nos preocupam as questões laboral e ética envolvidas nisso tudo.
Ficamos felizes com a decisão da CBL de desclassificar a obra ilustrada por uma IA.
Por falar em apoiar a literatura nacional, lembramos que hoje é o ÚLTIMO DIA para garantir seu exemplar da segunda edição de nossa revista impressa!
A FESTA é um projeto muito especial feito em parceria com o pessoal da Editora Fictícia, da Lavoura Editorial e da Macabéa Edições. Convidamos 100 artistas — conheça os nomes aqui, aqui, aqui e aqui, — para desfilar nas alas dos contos, poemas, trechos de romances e traduções de idiomas variados.
O dinheiro arrecadado com as vendas da revista vai ser usado para levar nosso bloco à Festa Literária Internacional de Paraty. A Flip é um dos eventos editoriais mais importantes aqui no Brasil, reunindo profissionais do mundo todo num mesmo lugar para trocar figurinhas e fortalecer nosso mercado.
Você pode nos ajudar comprando a FESTA no nosso site ou pela nossa página no Catarse (não é por nada, mas preparamos pacotes com recompensas incríveis!). Se você já comprou, te agradecemos imensamente; agora, que tal espalhar a palavra e convidar mais gente para esse carnaval literário? E, se a grana estiver curta ou se você não conseguir receber a revista no momento, mas ainda assim quiser dar uma força, qualquer dois reais já faz uma diferença enorme — nossa chave pix é o e-mail editora@aboio.com.br.
Já que o tema da revista é festa, nada mais justo do que convidar vocês para celebrar conosco na próxima sexta-feira!
Em São Paulo, temos o lançamento de Sem os dentes da frente, de André Balbo, lá na Ria Livraria (Rua Marinho Falcão, 58 — do ladinho da estação Vila Madalena). Apareça lá pra nos dar um abraço, tomar uma coisinha e comemorar esse livro de contos inspirado no que há de mais esquisito (e legal) na literatura latino-americana.
Ainda na capital paulista, nosso editor-fundador Leopoldo Cavalcante participa, junto de Tayná Saez, do lançamento de Caixa D’água (Reformatório, 2023), de Febraro de Oliveira, vencedor do Prêmio Caio Fernando Abreu de Literatura no ano passado. A Biblioteca Mário de Andrade (Rua da Consolação, 94) vai ser o palco da leitura dos poemas seguida de um debate.
Milena Martins Moura, por sua vez, estará no Rio de Janeiro, na unidade de Ipanema da Livraria da Travessa (Rua Visconde de Pirajá, 572), com O Cordeiro e os Pecados Dividindo o Pão. Com direito a um bate-papo com Priscila Branco, vai ser uma noite para comemorar — sem culpa — a dessacralização das imagens cristãs em face ao erotismo feminino.
Os três eventos começam às 19h do dia 17 de novembro.
Por fim, as indicações que vocês nos enviaram ao longo da semana!
OS TEMPOS DA FUGA — GIOVANA PROENÇA
1979. Com a Anistia, uma mulher retorna ao Brasil. Após passar anos na Argentina, é hora de voltar ao país de origem. Um trajeto marcado por uma cidade interiorana, uma casa e uma lápide. O regresso é também o despertar de lembranças incandescentes. Ele traz à memória o passado em cinzas da protagonista, Lígia.
No prefácio do romance, Matheus Lopes Quirino escreve que Os tempos da fuga mostra como o silêncio guarda frases fortes, enredos cinematográficos e personagens difíceis — elementos que confluem em uma trama abrasadora que marca a estreia na ficção da pesquisadora de Teoria Literária e Literatura Comparada (FFLCH-USP) Giovana Proença.
PANDORA NÃO DORMIA - POEMAS DE NOITES INSONES — ANA ELISA GRANZIERA
Na introdução de Pandora Não Dormia, a autora Ana Elisa Granziera abre a porta para uma madrugada de conflitos internos que só podem ser apaziguados pela torrente de palavras derramadas noite adentro. Tendo sofrido de insônia desde a infância, ela se habituou a anotar seus sonhos complexos, na tentativa de decifrá-los, e entender o que sente. A poesia, para ela, é o processo inverso: “Parte da sensação, e, através de palavras, cria uma imagem do sonho”. Por isso, talvez, a poesia aconteça mais intensamente em períodos de insônia, num desespero da psique em voltar ao mundo que só encontra dormindo. Editar Pandora Não Dormia, selecionando poemas e imagens, foi um processo catártico num fechamento de ciclo. “O livro precisava sair de mim, para que não voltasse mais”, conclui.
Por hoje, é só. Agradecemos seu apoio de sempre na luta por uma literatura brasileira com uma cadeia produtiva justa. Para isso, leitores e profissionais da área precisamos estar unidos para debater os assuntos espinhosos prezando sempre pela cadeia produtiva justa — esse é o ganha pão de muita gente, afinal. E nunca esquecer: o canto é conjunto.
Até a próxima,
Equipe Aboio