Bom dia, boa tarde, boa noite! Como vai você?
Fevereiro acabou e, com ele, encerrou-se a X Chamada do Portal Aboio. A gente fica muito feliz por receber textos tão diversificados em forma e conteúdo, é sempre inspirador ver como a literatura em língua portuguesa pulsa, cheia de vida. Os trabalhos estão sendo avaliados pela nossa equipe editorial e aí entramos em contato com os aprovados; fiquem de olho nos seus e-mails!
Para abrir março com o pé direito, que tal algumas dicas literárias de um dos autores da Aboio? O convidado da vez é André Balbo, que escreveu Sem os dentes da frente, uma coletânea de contos em diálogo com o gótico contemporâneo da América Latina.
Bebendo de fontes como Mariana Enríquez, Samanta Schweblin e Mónica Ojeda, Balbo distorce a realidade o suficiente para que a dose certa do fantástico possa entrar pelas brechas. Como bem definiu a crítica Tammy Ghannam, o autor “suspende a ordem natural das coisas e nos coloca de cara com o estranho, tão esquisito que nos arranca o riso — ainda que desdentado”.
Para quem quiser um tira-gosto, o conto que dá nome à obra pode ser lido aqui no nosso portal. Vamos às indicações?
📚 Poemas ynacabados, Esmeralda Ribeiro (Feminas)
Peguei autógrafo e conversei com a autora muito de rapidinho na Flip do ano passado que foi caos falta de luz. E da falta puxo pro inacabado que com Esmeralda Ribeiro é ynacabado – palavra que promete o desvio a vírgula a elipse e entrega o provimento da invenção de quem põe flor em fresta não pra tapar mas pra fazer jardim.
No circuito curto a gente lê flor e só sabe rimar com bond street ou pop de galho – gosto dos dois fique claro. Mas fresta é isso: dar olé no circuito pra ver de onde vem a flor que “não é sombra de ninguém, mas/ gosta de penumbra sobre si”. Poemas ynacabados é livro pra lembrar que – como disse o educador – o verso da realidade não tá pronto é coisa nenhuma. Os cadernos da história estão aí na peleja entre palavras e quem diz que já acabou é porque se acostumou a engordar na seca. E outra coisa. Não sei qual, fica só mesmo a recomendação.
📚 Voladoras, Mónica Ojeda (Autêntica) – tradução de Silvia Massimini Felix
Tá maluco. Peguei um dos poucos intervalos de sobriedade na Flip passada pra encostar na praça com uma amiga e ouvir no telão a equatoriana que já tinha me rasgado com Mandíbula falar dos contos – o gênero definitivo e quem discorda odeia a América Latina – de Voladoras. Fiz uma coisa que nunca tinha feito: saquei o celular e anotei uns pedaços da fala dela e vou reescrever agora porque olhando bem o bloco de notas pelo jeito eu não tava muito sóbrio: Mandíbula é sobre como o corpo explode, Voladoras é sobre como corpo reage a uma violência contagiosa. E se eu entendi errado e era ao contrário pouco importa.
Tem muita contista foda nesse “novo gótico latino-americano” – a María Fernanda Ampuero odeia o rótulo mas há rótulos que vêm para o boom – e dá pra puxar fio e carne comum entre todas elas mas é a primeira vez que leio contos que me fazem pensar que o grande fantasma não é a história, os monstros, a família, sim, ele é tudo isso também, mas o grande fantasma é a própria geografia. Em Voladoras o terror é andino e espraia dores cabeças traumas contagiando a todos. É bizarro e por isso lindo. Freak is beautiful, como dizem no México.
📚 Mônica e a sua turma – nº 1, Mauricio de Sousa (Globo)
Depois da nota anterior não ouso passar batido pela edição histórica cuja primeira historinha (“Mônica é daltônica?”) simplesmente começa com uma reunião comandada por Zé Luis a fim de “diminuir o poder” da rival depois de tentativas inúteis como por exemplo “convidando gente que poderia enfrentá-la a visitar nosso bairro”. O plano dos meninos funciona mas aí Cebolinha decide abusar da autoridade recém-imposta e acaba amarelo de medo antes de ficar roxo de porrada.
Mônica, dentes, poder, confronto, trauma, bairro. A literatura tem desígnios secretos e quando a reverberação passeia entre hispano-americanos e brasileiros percorrendo o embaraço das épocas pra mim é motivo de festa. E leitura. Desconheço histórias que traduzam tão bem o processo formativo de tantas gerações como as do bairro do Limoeiro.
📚 A palavra nunca, Eric Nepomuceno (Patuá)
De tempos em tempos quando vejo o Edu Lacerda, editor da Patuá, exercito meu bordão: escolhe pra mim aí uns quatro livro de contos que você publicou recentemente. Na última leva comprei este cujo título jurei que já conhecia então concluí que estava maluco depois entendi que maluco eu até estava mas o título era mesmo antigo conhecido: A palavra nunca foi publicado pela primeira vez em 1985 – exatamente: ano em que nasceram Cristiano Ronaldo, Lewis Hamilton e Lana Del Rey – pela Nova Fronteira.
Nepomuceno foi quem me apresentou nesta língua o Cortázar então eu parti totalmente enviesado na leitura mas durou pouco porque eu criei umas expectativas nem lembro quais e que foram arruinadas por contos com gosto de saudade e melancolia e aí fiquei meio puto duas vezes: primeiro comigo pelo pendor burro de procurar Cortázar em Nepomuceno depois comigo de novo por cismar que agora tenho que reler O jogo da amarelinha procurando Nepomuceno em Cortázar.
📚 PRÉ-VENDAS
Obrigado pela comida - até 05 de março
Depois de trazer diversos títulos de prosa nórdica para o Brasil, chegou a hora da poesia do norte europeu aterrisar por aqui com a Coleção Edda Poética.
O primeiro autor da coletânea é Jon Ståle Ritland, cuja exploração apaixonada pela comida foi traduzida por Leonardo Pinto Silva com apoio da NORLA, agência norueguesa de fomento à literatura do país. A edição conta também com ilustrações de Magne Furuholmen, da banda A-Ha.
Aotubiografia - até 13/03
Numa investigação das experiências cotidianas de uma vida como quase qualquer outra, Jérôme Poloczek convida o leitor a desvendar o espaço, o além, o despertar e o adormecer, o ciúme, o amor, o isolamento, o corpo. Aotubiografia é um mergulho na prosa magnética e inusitada do belga, uma das vozes mais insitgantes das artes e da literatura belga atuais, considerado pela crítica como “minimalista da melhor cepa”.
A tradução, feita a partir do original em francês, ficou por conta de Natan Schäffer, que também assina a apresentação do livro.
🗞️ POR AÍ
Forte como a morte, de Otto Leopoldo Winck, rendeu duas belas resenhas na última semana: uma no Jornal Nota, escrita por Luiz Antonio Ribeiro; e outra na Ruído Manifesto, da autoria de Caio Augusto Leite.
Pelo Instagram, Thaís Campolina bateu um papo bem legal com Cintia Brasileiro sobre Na intimidade do silêncio na live “De onde veio essa ideia?.
Vitor Zindacta, do Post Literal, compartilhou as impressões que teve ao ler Pesadelo tropical, de Marcos Vinícius Almeida.
E aí, quais dos livros indicados você já leu ou pretende ler? Por quais títulos do novo gótico latino já se aventurou?
A gente fica por aqui hoje, mas o papo sempre continua nos comentários ou nas nossas redes!
Até a próxima,
Equipe Aboio