Olá, olá! Como vai seu feriado?
Já é a reta final de 2023 e daqui a pouco começa a loucura da busca pelos presentes de amigo secreto e festas de fim de ano. Para quem gosta de dar um pouco de literatura nessas ocasiões, trazemos 5 indicações de Yvonne Miller.
A autora de Deus criou primeiro um tatu é alemã de nascença, mas brasileira de alma, e mora por aqui desde 2017. Prova de sua brasilidade é a paixão pelas crônicas, esse gênero tão verde e amarelo. Em seu livro, reúne 50 crônicas escritas durante o tempo em que viveu na Aldeia dos Camarás, em meio à Mata Atlântica pernambucana. Aliás, ele está disponível gratuitamente em formato digital lá na Aboio Acessível.
Tudo para Yvonne é matéria fértil para uma crônica: o dia a dia no Bosque Águas de Aldeia, uma cobra enroladinha na árvore, as descobertas de Chico, "o cachorro mais boa-praça do condomínio", a caranguejeira em cima da cama etc. Com bom humor, ela nos ensina a perceber a poesia possível do nosso entorno, sem nunca perder a noção política do meio ambiente e do bioma que chama de lar.
Sua lista de recomendações, porém, é bem variada. A crônica se faz presente, como não poderia deixar de ser, mas também inclui contos e romances – ou seja, perfeita para agradar a todos os tipos de leitores. Conta pra gente se você já tiver lido ou pretende ler algum dos títulos!
O caminho de casa, Yaa Gyasi (Rocco)
Um dos melhores livros em geral e o romance de estreia mais impressionante que já li. Costurando os capítulos de geração em geração, a autora ganense traça não só a história de uma família entre dois continentes, mas também uma história da escravidão em forma de ficção. Começando no século XVIII em Gana acompanhamos os descendentes das irmãs Esi e Effia até os dias recentes no início do século XXI: Quey, Ness, James, Kojo, Abena, H, Akua, Willie, Yaw, Sonny, Marjorie, Marcus... Os personagens, os espaços, as épocas, as histórias; tudo nesse romance é diverso e profundo.
Foi o livro que mais dei de presente nos últimos anos. E os presenteados têm me dado o mesmo retorno sempre: a única coisa que gostavam menos era a saudade que as personagens deixavam ao final de cada capítulo. Porque quando a história é bem contada e os personagens são bem construídos, a gente fica com saudade mesmo.
Suíte Tóquio, Giovana Madalosso (Todavia)
E se eu disser que esse é um romance muito gostoso sobre o sequestro de uma criança? Mas calma aí, não me cancela ainda: quem sequestra a criança é a babá e com as melhores intenções. Não, não tô dando spoiler, que o livro já começa assim: “Estou raptando uma criança”. E a partir dessa primeira frase você acompanha a Maju, que, de fato, está raptando a filha da patroa. Raptando de uma forma maternal, carinhosa, porque a Maju ama a menina como se fosse a filha dela. Enquanto isso, a mãe, Fernanda, está imersa numa paixão por uma colega de trabalho. Um sequestro por um lado, uma história de amor por outro, vê se pode...
Acompanhamos as duas, em capítulos alternantes, narrados sempre em primeira pessoa, com vozes tão diferentes como são as duas mulheres, cada uma com sua história, sua realidade e seus desejos. E sempre nos surpreendemos com os caminhos por onde a autora nos leva. Um desses livros que você não quer largar mais.
Afetos colaterais, Bettina Bopp (Planeta)
Meu candidato pro Jabuti na categoria crônica ano que vem! Esse poderia ser um livro muito triste, mas a autora decidiu enfrentar a doença neurodegenerativa da sua mãe com leveza e, sobretudo, amor. Ao longo da leitura me lembrei muito do meu avô, que tinha demência; depois da refeição lambia os pratos pra não ter que lavar, e o remédio o deixava com uma vontade doida de fugir de casa. No caso da mãe da cronista, a doença se mostrava em falas confusas. E são elas que dão início a cada crônica. Pequenas pérolas em que a autora encontrou poesia no meio da dor da despedida: “As macaúbas ficaram muito sérias.”, “Ontem eu vou casar na Igreja da Glória.”, “Em cima do muro tem duas bolas e uma clarineta.”, “O FHC abriu uma oficina e um lava-rápido perto do Habib’s de Pirassununga.”
As histórias que seguem cada fala são crônicas memorialísticas, reflexivas e muitas vezes humorísticas. Sim, eu me diverti bastante com os amigos e inimigos invisíveis da mãe, ao mesmo tempo em que outros momentos me deixaram emocionada ou pensativa. Como diz a autora na primeira crônica: “Acho que minha mãe ficou meio Manoel de Barros.” Também acho.
Rogai por nós, Lícia Mayra
Já estamos em outubro e logo mais vamos ver decoração natalina pela cidade toda. Isso me lembra de “Rogai por nós”, melhor noveleta de não-Natal do Nordeste todim. Então fica a dica pra quem estiver com pressa pro Natal chegar (ou não) e pra quem quiser uma leitura rápida das boas. Aqui, sim, tenho que abrir um parênteses pra lembrar que leitura rápida das boas não necessariamente é leitura rápida das leves e é por isso que o livro vem com um aviso de gatilho.
Pra não dar spoiler sobre o drama, só vou dizer o seguinte: tenho demasiados livros me esperando na estante para repetir qualquer leitura, mas essa eu repito uma vez por ano, como aqueles filmes que assistimos todo ano no réveillon. E ainda comecei a perseguir a Lícia feito groupie, indicá-la para coletivos literários, organizadoras de coletâneas e qualquer pessoa que goste de contos. Meu sonho atual é que publique com a Aboio, pra dividir com ela minha casa editorial.
Tinha que ser mulher, Giselle Fiorini Bohn & Sara Klust (orga.)
Você pode dizer que sou suspeita pra falar por ser uma das dezessete escritoras que compõem essa coletânea. Mas que coletânea! Topei o convite da Giselle Fiorini Bohn – uma das minhas contistas favoritas – meio a cegas porque gostei do projeto: uma compilação de contos escritos por mulheres de várias partes do Brasil, cujo lucro iria para a Associação Fala Mulher, que acolhe mulheres vítimas de violência. Como sempre digo: escrever é um ato político e a literatura tem o poder de mudar vidas. Sei dessa potência. Mas fiquei surpresa mesmo com a qualidade dos contos e com a diversidade dos temas e estilos.
Se você achar tudo isso muito suspeito, te convido a baixar o e-book e ler com seus próprios olhos. De todas as formas, o dinheiro não será perdido: irá 100% para a Associação Fala Mulher. Ler também é um ato político.
Pedimos licença para o clubismo descarado, mas não poderíamos deixar de falar também dos livros da Aboio que estão em pré-venda. Temos poesia, romance e uma revista no prelo, que você pode adquirir na nossa loja virtual ou apoiar pelo Catarse (alguns dos pacotes de recompensa incluem nossa ecobag, uma queridinha da comunidade).
Comprando um dos títulos na pré-venda, você tem 10% de desconto no livro e no frete, além de gravar seu nome nos agradecimentos do projeto.
O CORDEIRO E OS PECADOS DIVIDINDO O PÃO - até 23 de outubro
Nas palavras de Priscila Branco, que assina o prefácio do livro, “(em) O Cordeiro e os Pecados Dividindo o Pão, o único milagre possível é o ato poético (...): ‘Eu estou escrevendo / Isso é um milagre’”. Num exercício de subversão, Milena Martins Moura faz o cordeiro – símbolo da castidade – sentar à mesa com os pecados. E gozar da companhia um do outro, “de corpo inteiro no indevido”. Para a professora Paula Glenadel da Universidade Federal Fluminense (UFF), Milena “assume para si uma voz incomum entre sua geração”, seja tratando de temas bíblicos ou dos “mistérios gregos”.
FORTE COMO A MORTE – até 30 de outubro
Uma criança alçada a santa, um padre em crise com a própria fé e uma investigação sobre a doutrina de kenosis. Um tríptico narrado a várias vozes, o novo romance de Otto Leopoldo Winck pincela uma história a partir da manhã na qual Rosália Klossosky acorda com misteriosas manchas vermelhas em ambas as mãos. Costurando passado e presente com ecos do futuro, o autor cria uma trama que continua atual apesar de ter sido escrita há quase duas décadas. A luta por terra e moradia, os conflitos religiosos e os dramas particulares dos personagens ainda têm a mesma relevância que tinham no começo do milênio. O Brasil de hoje não é tão diferente do Brasil de ontem, afinal.
FESTA – até 02 de novembro
Nosso enredo foi escrito em parceria com a Editora Fictícia, a Lavoura Editorial e a Macabéa Edições. Convidamos 100 artistas contemporâneos para desfilar nas alas dos contos, dos poemas, trechos de romances, traduções de pelo menos oito idiomas e muitas outras! Com a sua ajuda, queremos levar nosso bloco para Paraty: as vendas da revista vão custear nossa ida para a Flip. Preparamos recompensas incríveis para os apoiadores – é só entrar na nossa página do Catarse para escolher seu pacote.
Ficamos por aqui hoje. Esperamos que você esteja aproveitando seu feriado, seja curtindo a chuva para se trancar em casa com uma boa leitura ou numa praia ensolarada. E nunca esquecer: o canto é conjunto.
Até a próxima,
Equipe Aboio